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Relato completo e atualizado da minha viagem pela Patagônia chilena e argentina: Punta Arenas, Puert

“As câmeras fotográficas foram inventadas para lugares como este”. Essa frase não saia da minha cabeça durante minha viagem para a enigmática Patagônia chilena e argentina. As incríveis montanhas de mais de 3.000m de altitude com o cume coberto de neve, a vegetação rasteira e os animais exóticos deixaram meus sentidos confusos com tanta beleza. Como um lugar desse existia há menos de 4 mil quilômetros da minha cidade e eu não tinha planejado uma viagem para lá antes?

INTRODUÇÃO: A Patagônia é uma região de quase 800 mil quilômetros na América do Sul. A natureza foi muito, mas muito generosa com essa pontinha do mundo, proporcionando diversas paisagens de tirar o fôlego. Eu optei por conhecer a sua parte sul, passando por cidades do Chile e da Argentina. O roteiro completo foi: Curitiba > Santiago > Punta Arenas > Puerto Natales > El Calafate > El Chaltén > Puerto Natales > Santiago > Curitiba.


O trecho que fizemos de carro alugado foi de, aproximadamente, 2.200km rodados.

Planejei muito essa viagem durante o ano de 2015 todo. Tem viagens que exigem uma preparação mais extensa e detalhada para que você possa gastar o mínimo e aproveitar o máximo. Só de academia eu fiz cinco meses (eu não pisava em uma desde 2012 e meus finais de semana consistiam em maratonas de 10 horas de Netflix) para garantir que eu conseguisse atingir meu objetivo de chegar até o pé das Torres do Parque Nacional Torres del Paine.

A primeira vez que eu ouvi falar nesse parque foi em outubro de 2014. Por mera coincidência eu acabei encontrando o Instagram de um americano chamado Jedidiah Jenkins (@jedidiahjenkins), que havia largado um emprego que amava para pedalar aproximadamente 11.250 km entre o Oregon-US até Torres Del Paine no Chile. Eu acompanhei o final da aventura dele e fiquei muito surpresa com as lindas fotos que ele postou da Patagônia. Que lugar maravilhoso era aquele?

Nesse vídeo chamado “The Thousand Year Journey: Oregon to Patagonia”, o Jed explica os motivos que o levaram a encarar essa aventura (o cara é um unicórnio, sério! Se você gosta de reflexões filosíficas sobre a vida e sobre nossa existência siga o Instagram dele e seja muito feliz"):


Eu parei tudo que estava fazendo para procurar informações sobre aquele destino magnífico no Google. Em uma fração de segundo, a doença que acometeu o americano de trinta anos e o incentivou a atravessar metade do mundo inexplicavelmente também me infectou. A partir daquele momento eu tinha a certeza de que iria conhecer Torres Del Paine. Comprei minhas passagens só em agosto de 2015 e, como eu só falava na viagem, acabei convencendo meu namorado, meus pais e mais uma família de amigos deles a viajarem junto comigo. Ao total seriamos sete viajantes, sendo que eu montei toda a programação e fiz todas as reservas. Em 22 de dezembro chegamos em Santiago (pegue assentos na janela porque o avião passa por cima da cordilheira dos Andes e vale muito a pena poder ver e tirar fotos). Santiago é uma cidade maravilhosa, mas se eu for detalhar minha estadia lá esse post vai ficar tão grande que se eu imprimir fica maior que a compilação dos livros de O Senhor dos Anéis. Vou escrever sobre Santiago em um post separado.

PUNTA ARENAS: Meu primeiro contato real com a Patagônia foi com a chegada na cidade Punta Arenas em 25 de dezembro de 2015. Meu vôo da Sky partiu de Santiago com escala em Puerto Montt e pousou no Aeroporto Internacional Carlos Ibáñez del Campo. Lembro de ter colado meu rosto na janelinha da aeronave como uma criança e observado pela primeira vez a linda e pitoresca paisagem patagônica. A primeira impressão já foi de deslumbramento, mesmo lá do alto eu podia ver o profundo contraste entre o azul dos lagos com o verde musgo da vegetação rasteira, o branco da neve e o cinza granito das montanhas. Se você quer economizar nas passagens, a Sky foi uma companhia aérea boa. Foram pontuais e a passagem estava 200 reais mais barata do que a da Lan. O único problema é que a passagem não é reembolsável. Comprei pela agência de turismo de Curitiba Rota Sul (fale com Ernesto (41) 9621-8538). No voo de ida marque seus assentos na janela, do lado esquerdo do avião (quando você entra na aeronave pela frente, são as poltronas ao seu lado direito, normalmente de letras A,B,C). A vista vai compensar ficar acordado, especialmente quando o avião passa por cima das montanhas. O mesmo vale para a volta para Santiago, mas daí marque do outro lado (poltronas D,E,F). Não esqueça de comer bem antes de sair de Santiago ou de levar bolachas porque nem a Lan nem a Sky servem refeição neste vôo. Desembarcamos quase que correndo e em tempo recorde eu, meus pais e meu namorado já estávamos no carro alugado partindo em direção à cidade (selecionei algumas informações sobre aluguel de carro na parte de dicas). O choque entre o sul do Chile e sua capital já era evidente, aqui tudo parecia acontecer um pouco mais devagar. Os carros eram mais antigos e as casas mais rústicas, com janelas enormes e telhados coloridos. Os habitantes pareciam mais interessantes, com um certo ar de mistério. Como será que era a sensação de morar em um lugar tão afastado e selvagem? A cidade é bonita, às margens do estreito de Magalhães. Foi fundada em 1848 e mais de 50% da população é descendente de croatas. Eu repetia: estamos na Patagônia!, estamos na Patagônia!, estamos na Patagônia!. Repeti tanto que virou uma música, cantada a plenos pulmões em meio a cidade pelo nosso grupo: “Estamos da Patagônia-ônia-ônia-ônia! Estamos da Patagônia-ônia-ônia-ônia!”. Gostamos tanto que acabou se tornando o jingle da viagem, cantado e dançado em todas as cidades e todos os dias. Somos estranhos, eu sei.

Andes vistos de cima na chegada em Santiago:

Centro de Punta Arenas:

Os carros que alugamos também foram uma história à parte. Eram dois Toyota Corollas XEI brancos com mais ou menos 70 mil quilômetros cada. Eles estavam tão judiados, mas tão judiados, que apelidamos eles de o “Podrão” e o “Podrinho”. O Podrão tinha o pára-choque traseiro solto e o para-choque do Podrinho estava preso ao resto do carro com uns lacres plásticos, merecendo o título de o carro mais inteiro. Os carros, ao final, acabaram mostrando seu valor, sendo que não nos deixaram na mão nenhuma vez a viagem toda, enfrentando kms e mais kms em estradas de rípio. Achei que compensou muito fazer uma breve pesquisa sobre quem foi Magalhães e sobre a viagem de Darwin pelo HMS Beagle porque deu um contexto bom para a região. Coloquei um resuminho ao final do post, após as dicas, para você impressionar os amigos ou parentes durante a viagem.


No caminho do aeroporto para a cidade veio a primeira surpresa:

Tipo.... oi? Tsunami...?!! Por um segundo eu arregalei os olhos e senti um calafrio na espinha. Como assim TSUNAMI cara? Nós, brasileiros abençoados que não precisam nos preocupar normalmente com isso ficamos supreendidos com esse tipo de placa, mas logo lembrei que lá é do ladinho do Círculo de Fogo do Pacífico e que terremotos são constantes no Chile. Não que vá acontecer algo, a chance é mínima, mas que da uma geladinha de ver a placa dá sim. Na cidade, também repare nas árvores redondas, verdes e cheias de folhas que estão plantadas por todos os lados. Nunca vi árvores como aquelas antes. Também repare nas flores Lupinos, que são típicas dos andes. São flores compridas, normalmente de cor roxa, azul ou rosa e são muito bonitas. Estão por toda a Patagônia e a Terra Del Fuego e vão render lindas fotos.


Minha mãe e as árvores "bolinha" no centro da cidade:

Vista do mirante de Punta Arenas:

Flor Lupinus:

O passeio que eu queria fazer de barco para a Isla Magdalena y Marta para ver os pinguins de Magalhães estava lotado em todas as agências de turismo que perguntamos (a maior parte das agências estão localizadas próximas à Plaza de Armas). São mais ou menos 60 mil casais de pinguins que se reproduzem na ilha. Se você vai em alta temporada e quer garantir o passeio, talvez seja melhor entrar em contato com alguma agência de viagem já aqui do Brasil (como por exemplo a Solo Expediciones). Sem sucesso com o passeio, ficamos passeando pelo centro e, em especial, na feira de artesanato na Plaza de Armas. Gostei muito de uma van que estaciona na praça e você entra nela para comprar as quinquilharias. Lá o preço estava exposto e não dependia da cara do cliente. Na hora que vc vê a van, como um bom brasileiro, da aquele medinho básico de entrar porque parece que vão te sequestrar ali dentro e roubar seus órgãos pra vender no mercado negro (!), mas relaxa que é tranquilo. Inclusive, foi nessa van que tive meu primeiro contato com os indígenas Selk’nam (também conhecidos como Ona). Eles viveram na Tierra del Fuego entre 10mil e 15mil anos atrás, sendo que os homens eram caçadores ferozes e, as mulheres, mergulhadoras destemidas. Eles ficavam sempre pelados, mesmo durante o inverno rigoroso da Patagônia e, para se aquecer, faziam fogueiras enormes. Há relatos de que foi a fumaça dessas fogueiras que Magalhães viu e por isso que apelidou o arquipélago de Terra do Fogo. Você vai ver diversas fotos preto e branco de homens pelados com o corpo totalmente coberto por tinta durante toda a viagem, que foram tiradas durante um ritual de iniciação dos adolescentes homens. Há um painel de madeira com uma pintura representando esse ritual na entrada da van e você pode colocar sua cabeça e tirar uma foto.


Claro que como toda boa história de colonização européia os Selk’nam foram absolutamente dizimados. Segundo a fonte mais confiável do mundo, a Wikipédia (ironia, amigos... ironia), existiam aproximadamente 4.000 Selk’nam em meados do século 19, mas já em 1930 eles tinham sido reduzidos para aproximadamente 100 representantes. Ahhh as proezas dos seres humanos.


Foto retirada do Google do povo Selk’nam:

Em Punta Arenas não deixe de comer Chupe de Centolla no restaurante La Luna. É tipo um creme com pedaços de carne de centolla (mais ou menos um carangueijo gigante e vermelho ecnontrado nas águas frias da Patagônia). Cara, sério, foi a melhor refeição da viagem. Divino!!! Minha mente obesa consegue é sentir o gosto imaginário aqui que ficou registrado na memória. Não é barato (13500 pesos), mas vale cara peso gasto. Os outros restaurantes vou indicar ao final, mas abri uma exceção para este porque merece!




A noite no hotel que eu e meu namorado ficamos foi boa (veja mais detalhes na parte de dicas), mas, como sou uma pessoa naturalmente desconfiada, inventei uma arapuca para trancar melhor a porta do quarto que dava direto para a rua. Triste não ter conseguido desligar um pouco esse medo de assalto fora do nosso país, mas fazer o que né? Minha mãe, que nos deixou nesse hotel, fez muito terror sobre a porta direto para a rua, então acabei comprando um pouquinho do medo dela na hora. Os ingredientes utilizados para criar essa obra prima da segurança domiciliar foram: 2 cadeiras de metal, 1 travesseiro e 1 tábua de passar roupa. Confesso que dormi bem mais tranquila sabendo que eu estava exageradamente protegida:

Nessa primeira noite já tivemos a primeira experiência patagônica inesquecível: o sol se põe às 22h30. Tirei milhões de fotos do céu ainda completamente iluminado pelos raios solares às 22 horas. Eu estava indo dormir e o sol ainda reinava, alongando quase infinitamente o dia. A sensação era diferente, sendo que o dia parecia durar mais, ou seja, parecia que você fazia mais coisas em um único dia, estando consequentemente mais cansado. Mas, também, era maravilhoso ter tanto tempo para passear e fazer turismo. No dia seguinte andamos mais pela cidade, fizemos umas comprinhas de lembrancinhas típicas da região e fomos até a zona franca dar uma olhada no free shop só para ficarmos decepcionados porque não tinha nada de interessante.

Às 16 horas eu e o Con pegamos um ônibus da Buses Fernandez para Puerto Natales (mais infos nas dicas). A viagem demorou aproximadamente 3 horas (217km) e o Con dormiu a maior parte do tempo (como sempre). Eu não consegui dormir quase nada e aproveitei para observar cuidadosamente a paisagem que ia passando na minha janela, tentando memorizar cada mínimo detalhe.


Dicas da tia Ana:


COMIDA - Melhor chocolate quente que já tomei na vida foi no La Chocolatta (R. Gobernador Carlos Bories, 852 – uma quadra e meia da Plaza de Armas). Também achei gostoso o misto quente deles. Não deixe de comer o chupe de centollas no restaurante La Luna (R. Bernardo O’ Higgins, 1017 – também perto da Plaza de Armas). É caro (13.500 pesos), mas se você não estiver morrendo de fome dá para dividir entre duas pessoas. Também gostamos de tomar café da manhã no Lomito’s (R. José Menéndez, 722 – perto da praça também). Peça o ovo mexido com queijo e presunto que vem em um cumbuquinha e acompanha torradas (não está no cardápio).


HOTEL - Meus pais estavam hospedados em um hotel feito de containers que acabou sendo um dos mais legais da viagem toda, o Apart Hotel Quillango. Eles amaram, era super aconchegante e arrumado. Eu e meu namorado ficamos no Matic Apartaments e não gostamos muito. Ele é bem simples e não senti muita segurança. Pelo menos a cama era bem confortável e o chuveiro era forte e quente.


ÔNIBUS PARA PUERTO NATALES – compramos passagens na Buses Fernández por 6.500 pesos cada. Fomos andando da Plaza de Armas até a empresa que é relativamente perto (Rua Armando Sanhueza, 745). Verifique no site deles os horários de saída. O ônibus foi super pontual e estava em boas condições. PUERTO NATALES E O PARQUE NACIONAL TORRES DEL PAINE: Puerto Natales é uma cidade muito aconchegante e a chegada de ônibus rende fotos bonitas. Ela foi um dos maiores portos da indústria chilena de lã, enviando mercadoria para o mundo todo:

Quando chegamos, já compramos com a Buses Gomez na própria rodoviária a passagem para o Torres del Paine para o dia seguinte. Depois passamos no mercado (bem no centro, na rua Manuel Bulnes na frente da loja com um outdoor da Salomon) e fomos à pé para nosso hostel, o Adventure Patagonia. Gostamos muito do quarto e da estrutura. Alugamos lá mesmo os sacos de dormir térmicos da marca italiana Ferrino (temperatura de conforto -4º e peso de 1kg e pouco) e estavam em excelentes condições. Comemos um frango assado que compramos no mercado (típico de um bom farofeiro!) com vinho delicioso late harvest da vinícola Carmen e fomos dormir.


Minha preciosa garrafa de vinho muito bem armazenada em destaque no meu mochilão (reparem na cara de felicidade!):


Acordamos cedo e pegamos um taxi junto com um espanhol para a rodoviária (preço fixo de 1.500 pesos – demorou apenas 5 minutos). Nosso ônibus para o Parque Nacional Torres del Paine saía às 7h30. A entrada no veículo chega a ser caótica porque são muitos mochileiros tentando enfiar a mochila no bagageiro sem ordem alguma. Empurrando um gringo ruivo pro lado (foi mal) soquei meu mochilão e o do Con e subimos no ônibus. No caminho percebi que o dia estava absolutamente lindo e, assim que entramos na estrada de rípio com guanacos pulando na frente do ônibus como loucos é que percebi a benção que tínhamos recebido. Não havia uma única nuvem no céu, nenhuma! Nos aproximamos da entrada do parque e pela primeira vez eu consegui ver as torres de longe. Elas estavam lindas, imponentes e complemente abertas.

Chegando de ônibus no parque Torres del Paine:

Aquele passeio havia sido o motivo da viagem e bem no dia que eu tinha programado a subida o tempo estava maravilhoso, contrariando a previsão de chuva. O clima patagônico é famoso por suas viradas, mas eu jamais esperava um dia tão lindo em um lugar que o tempo é tão imprevisível. O ônibus parou na portaria Laguna Amarga umas 2h depois de sair da cidade. Aqui o celular já não tinha mais sinal. Pagamos a taxa de 18 mil pesos chilenos para entrar no Parque, assistimos o vídeo que é obrigatório e fomos ao banheiro.

Vista da Portaria Laguna Amarga:


Na Portaria você já consegue reservar os campamentos Torres, Paso e Italiano que são gratuítos para a felicidade dos mãos de vaca como eu e, dependendo da época, exigem reserva. Essa reserva não consegue ser feita pela internet, apenas na CONAF dentro do parque, de modo diferente dos acampamentos pagos da Fantastico Sur e da Vertice Patagônia. Clique aqui para ver os acampamentos e como reservar.


Como estávamos no pico da temporada tivemos um susto: o campamento Torres, em que pretendíamos dormir naquela noite, estava lotado para os próximos 4 dias. Nossa única opção era dormir no refúgio Chileno, que não sabíamos se também estava lotado, ou tentar subir e voltar no mesmo dia, pernoitando em algum dos acampamentos que ficam ao lado da Portaria.

Pegamos, então, outro ônibus para o hotel Las Torres por uns 2.000 pesos (é um ônibus branco que fica parado por lá esperando encher). Se você pesquisar na internet, vai ver que indicam para aqueles que vão fazer o W (75km ao total) começar pelo lado da geleira Grey. Se você quiser fazer isso, pode voltar para o mesmo ônibus que você veio da Buses Gomez que ele ainda vai parar no Pudeto e na Administração do parque. Desça no pudeto e pegue o catamarã que vai te levar pelo lago Pehoé até a Guarderia Paine Grande e o Refúgio Paine Grande. Desembarcando do outro ônibus nos preparamos para a trilha: passamos protetor solar, arrumamos as mochilas, abri os bastões e caminhada e logo começamos a andar. O ônibus deixa os passageiros exatamente do lado dos refúgios da Fantastico Sur chamados de Torres Central e Torre Norte, então caminhamos um pouco através de um acampamento até chegar no hotel. Já dali conseguíamos avistar as torres lindas e encobertas nos esperando.

Perto do Hotel Las Torres, próximo de onde o ônibus nos deixou:

A trilha começava ali perto, ao lado de uma vendinha de refrigerantes e lanches. Não tem erro, vá seguindo os outros 300 mil mochileiros que você logo acha o caminho. Você começa andando reto, daí tem uma descida e atravessa a primeira das diversas pontes sobre o rio Ascendio que iriamos cruzar no trajeto. A partir da ponte o caminho é só de subidas e mais subidas. Como não tínhamos nem alongado antes achei bem difícil “pegar no tranco” no início e senti muito o sol batendo na cabeça e a mochila pesando nas costas. A trilha estava cheia, repleta de turistas das mais diversas nacionalidades. Eles iam passando e dizendo, com um sorrisinho simpático: “hi!”, “hola!”, “oi!”. Tinha grupos de idosos, grupos de jovens, mulheres sozinhas, homens sozinhos, crianças e grupos de subiam a cavalo (trapaça!). Fizemos pausas para água e alimentação, sendo que a cada uma a vista ficava cada vez mais bonita devido à altitude que estamos ganhando. Dica de amiga: amei ter levado aquele gel repositor energético. Se funciona mesmo ou se é efeito placebo, não sei. Só sei que me senti melhor e mais disposta depois de tomar.

Vista no meio da subida maldita:

Foto que é capa do blog (sou eu ali de mochila vermelha):

Chegando no topo da para ver o vale no meio das montanhas por onde a trilha continuava. Foi um alívio a mudança de cenário e a diminuição no número de subidas. Agora caminhávamos quase que reto, paralelamente a um desfiladeiro de pedras que levava até o rio Ascendio bem lá em baixo:

Nesse trecho a dificuldade das subidas foi substituída pelo temor de pisar em falso e despencar ladeira abaixo. Alguns trechos são realmente perigosos, pois o tráfego de turistas é alto e a trilha é estreita, repleta de pedrinhas soltas e sem qualquer parapeito. Como eu estava aliviada com o fim das subidas nem me preocupei muito com a altura, o que é um milagre considerando que normalmente tenho pavor. Outro fator que contribuía para uma caminhada tranquila era a ausência dos famosos e temidos ventos patagônicos, que pelo que li de relatos de outros viajantes nesse trecho podiam incomodar muito. Nessa parte eu já dava graças a Deus por ter investido em bastões de caminhada. O Con, que no brasil achou exagero, acabou emprestando um dos meus bastões porque sentiu falta na trilha (há!!!). Por lá quase todo mundo usa. Eu gostei muito dos meus, achei super firmes, leves e confiáveis (modelo Trail Back da Black Diamond comprados nos EUA). Vale muito a pena levar um par!


Cansada, nãooooooo.... imagina:

Seguimos passando por lindas cachoeiras de águas cristalinas até finalmente chegarmos no refúgio Chileno, que é praticamente um oásis no meio da vegetação seca porque ele fica às margens do rio Ascendio, em um lugar tranquilo e repleto de árvores. Para nosso alívio eles tinham várias vagas para montar barraca, então foi tranquilo. Pagamos a taxa de 7.500 pesos e ganhamos uma etiqueta com a data do dia que nos liberava para acampar. Você cola esse adesivo no fio externo da barraca para conferência dos fiscais. Seguindo a vontade do Con, montamos nossa barraca ao lado do rio, com uma vista direto da pontinha das torres. Se você deitasse dentro da barraca e abrisse a porta, conseguia ver diretamente o rio, as árvores e bem ao fundo as montanhas nevadas, uma vista que nenhum hotel cinco estrelas teria. O problema era que não era possível deixar a porta da barraca aberta ou milhões de mosquitos invadiriam nosso acampamento. E tinha muito mosquito mesmo, de dar nervoso até. E não eram mosquitos normais como os que temos por aqui no Brasil. Pareciam moscas que tomaram muito Whey Protein e triplicaram de tamanho. Elas não picavam, mas incomodaram o caminho inteiro batendo no meu rosto e zumbindo no meu ouvido.


Vista de dentro da nossa barraca com as torres ao fundo:


Trancamos nossa barraquinha com um cadeado, repusemos um pouco as energias com barras de cereal, água fresquinha coletada do rio e mais um gel de energia para reposição de eletrolítica e seguimos nosso caminho. Se você está em dúvida se pode mesmo tomar água do rio, eu garanto que pode sim. Tomamos MUITA água do Ascendio sem clorin nem outro método de purificar e era fresquinha, limpa e nenhum de nós passou mal. Nesse momento algumas nuvens começaram a surgir no céu e um pequeno desespero bateu: imagina se as torres ficam encobertas na hora de eu chegar? Apressei o Con e lá fomos nós caminhar. Do refúgio chileno a trilha continua agora um pouco mais úmida, especialmente porque tinha nevado muito três dias atrás e a neve estava começando a derreter. Você passa pelo meio do acampamento cheio de barracas de todas as cores e tamanhos, cruza um riacho pisando cuidadosamente em algumas pedras estrategicamente posicionadas e entra em uma floresta. Cheia de pontes, subidas e descidas em meio a muita lama e neve congelada, achei essa uma das partes mais legais e bonitas do caminho. A diferença do meu rendimento sem a mochila e sem o sol forte na cabeça mudou muito e caminhamos esse trecho bem rapidamente, incluindo pausas para fotos:

Essa parte da trilha é longa e cruzamos com muitos turistas que já estavam voltando. Algumas vezes a lama era tanto que agradeci muito também pelo investimento financeiro em uma bota maravilhosa de trekking (marca Salomon, modelo Conquest GTX feminina), que manteve meu pé seco e limpo mesmo quando eu enfiava o pé inteiro na água ou no barro. A Vento Finisterre do Con também deu conta do recado. Esse trecho termina no Campamento Torres, que marca o início da pior parte do trajeto todo, o último quilômetro. Você vai subindo em meio a pedras enormes soltas e, como não tem mais muitas árvores, o sol voltou a incomodar. É como se fosse uma escada de 1 quilômetro com degraus enormes que pedem muito dos joelhos e pernas. Eu comecei a sentir dor no meu joelho direito e fizemos pausas para descansar. Dava até um desespero ao olhar para cima e ver pessoas lá em cima, pensando em todo o percurso que teríamos que percorrer para chegar lá. Percebi que essa parte estava sendo difícil para quase todo mundo, sendo que encontramos várias pessoas sentadas descansando com o rosto vermelho e uma expressão clara de fadiga. Uma mulher inclusive subia amaldiçoando o marido que convenceu ela de ir hahaha Ao chegar na parte superior você já consegue ver as torres e isso só alimentou meu ânimo. Eu era uma pessoa completamente diferente da que estava morrendo para subir, estava em êxtase agora que o topo estava muito próximo e chegar nele havia se tornado uma certeza. Meu joelho, que antes incomodava muito, agora estava sendo completamente ignorado enquanto eu subia pedra e mais pedra. Logo passamos a última flecha indicando o caminho e chegamos ao miradouro Base Torres. Eu estava em êxtase, dançando, rindo, abraçando o Con e tirando muitas fotos.


Finalmente:

Lá estavam elas, as Torres del Paine! Gigantes de 2.884 metros de granito olhando diretamente para mim com toda sua imponência e infinitude. Depois de tanto planejamento e espera eu finalmente havia conseguido! Mesmo tendo visto milhões de fotos das torres enquanto eu planejava a viagem, a beleza delas ao vivo é inigualável. Você sente a poderosa energia do lugar vibrando pelo seu corpo assim que chega no miradouro e tem certeza de que aquele lugar é muito antigo e muito especial.

To viva mãe! (mais ou menos):

Foto romântica indispensável:

Eu sentia uma conexão mágica com as torres. Parecia que elas sabiam o quanto eu queria fazer essa viagem e o quanto esperei para vê-las pessoalmente, que compreendiam a atração quase que magnética que exerciam sobre mim. Naquele momento éramos cúmplices, rindo da dificuldade da longa subida e do meu cansaço. Hoje, já de volta no Brasil, ainda sinto essa conexão com a Patagônia e com as Torres. A vontade de estar lá só intensificou e o desejo de voltar e completar todo o circuito W é uma realidade. Ficamos lá por mais ou menos quarenta minutos, tirando milhões de fotos, colocando a mão na água gelada do lago que se formou na base das torres e aproveitando o momento. Tentei absorver tudo daquela vista privilegiada, cada pedrinha, cada gota de água e cada floco de neve. Não podíamos ficar muito tempo mais porque tínhamos uma longa descida e não havíamos trazido lanterna caso escurecesse.


Mais uma foto porque o blog é meu e eu to afim :P


Iniciamos a descida e foi um pouco cansativo, considerando o esforço que havíamos feito para chegar ao topo. Para ajudar a passar o tempo, voltamos listando as coisas que mais queríamos naquele momento: banho quente em banheira de hidromassagem, taça de vinho, massagem shiatsu de uma hora, a próxima temporada de Game of Thrones. Também passamos um bom tempo conversando sobre o que esperávamos do próximo filme de Star Wars que sai em 2017. Moral da história: você pode até tirar o nerd do sofá e levar ele passear na montanha, mas ele vai continuar sendo nerd até no meio de uma trilha de 18 quilômetros. Logo chegamos na nossa barraca, entramos e nos jogamos sobre os isolantes térmicos, exaustos, mas muito felizes. Tomamos um notório “banho de gato” com lenços higiênicos e trocamos para roupas secas e mais quentinhas. Prepare-se que o banheiro disponibilizado no camping estava absurdamente nojento, mas pelo menos tinha papel higiênico. Entramos no saco de dormir e não tivemos tempo de mais nada, o cansaço tomando conta e trazendo o sono bem rápido. Eu acordei à 1 hora da madrugada assustada com o barulho inconfundível de chuva, muita chuva. O que eu ainda não contei é que nossa barraca era uma Nautika Falcon 3 de 200 reais, uma barraca beeeem simples de 3 estações com somente 800mm de coluna d’água e 2,4kg de peso.

Nossa barraquita Nautika ao lado do rio Ascendio:

Sabendo das limitações da nossa querida barraquita, eu e o Con fizemos questão de caprichar na montagem. O chão era meio rochoso, então usamos pedras para empurrar as estacas e fixamos as cordinhas nas árvores e em pedras grandes. O sobreteto ficou muito bem esticado e foi a nossa sorte porque a barraca da menina que estava ao lado não resistiu à chuva e desabou durante a noite (e olha que era uma barraca top, daquelas para uma pessoa só bem técnica). Então, independente da qualidade da sua barraca lembre-se de caprichar na montagem e esticar ao máximo o sobreteto. De repente, um pensamento inusitado cruzou minha cabeça. E se o rio subisse com tanta chuva? Eu cutuquei o Con com medo (lembre que era 1 hora da madrugada): “Con, amor lindo da minha vida, acorda! Ta chovendo” (eu juro que fui carinhosa assim, ele jura que foi algo mais tipo um cutucão e um "porr* que merd* ta chovendo!". Ele: “humm”, virou para o lado e voltou a dormir. Daí eu cutuquei de novo: “E se o rio subir? Ta chovendo muito”. Dessa vez ele abriu apenas um olho, respirou fundo e me garantiu que não ia subir. Brincou, de bom humor, que se subisse a água ia levantar a barraca e nos levar direto lá para baixo da montanha, sendo que economizaríamos as últimas 3 horas de trilha. Virou para o lado com um sorriso e capotou novamente.

Não sei dizer quantas vezes eu acordei naquela noite, morrendo de medo de o rio subir ou da barraca cair, amaldiçoando a idéia do Con de ter montado a barraca bem do lado do rio e rezando para a chuva passar. Não foi a melhor noite que eu tive na vida e nem a do Con, considerando todas as vezes que acordei ele falando que a tal da água do rio ia subir. Esse homem tem uma paciência de santo comigo às vezes hehehe E no final adivinhem? Abri a barraca no dia seguinte quando acordei e a porcaria do rio não tinha subido nenhum centímetro. NEM. UM. CENTÍMETRO.


O dia estava chuvoso e frio, sendo que o saco de dormir foi muito bom, me mantendo aquecida durante a noite. 6h da manhã e frio, muito frio:

Levantamos, fomos ao banheiro e eu não resisti o café da manhã do refúgio quando vi que tinha ovo mexido quente. Considerei um presente depois da noite ruim que eu tive (custou 8.000 pesos pagos na hora sem precisar reservar). Tomando café eu vi uma placa avisando que o Chileno agora tem WiFi pago e, como a mãe do Con estava nervosa lá no Brasil com nossas aventuras, compramos 30 minutos para mandar notícias. Ai que você para e pensa em como a tecnologia ta sinistra hoje em dia. Estavamos no meio do nada e o wifi tava pegando tão bem (ou tão mal) como lá em casa (valeu GVT!). A descida foi mais fácil do que imaginei. No começo as pernas cansadas do dia anterior demoraram um pouco para se acostumarem com mais caminhadas, mas logo pegamos ritmo e, como era 90% descida, acabamos indo bem rápido. Logo estávamos cruzando a última ponte sobre o rio Ascendio sob uma garoa leve em direção ao hotel Las Torres e deixando para trás um paraíso que nunca vou esquecer. A sensação ao sentar nas escadas do hotel para esperar meus pais foi de missão cumprida. Um leve arrependimento sobre não completar todo o Circuito W pairou no ar, mas não deixei tirar o brilho do momento. Desde o começo meu objetivo principal foi a subida até as torres e não havia tempo suficiente para fazer o W todo enquanto meus pais esperavam em Puerto Natales. A decisão já havia sido tomada e agora só me restava esperar pelo Podrão e o Podrinho.

Meus pais se atrasaram um pouco para vir nos buscar porque haviam pego uma bifurcação errada na estrada (não tinha placa) e demoraram muito para retornar. A demora não importava, estávamos muito felizes de nos encontrarmos novamente. Para o horror da minha mãe, sentamos todos na escada bem na frente do hotel Las Torres para comer os sanduíches que eles haviam trazido. Compramos refrigerantes e sucos gelados e almoçamos por ali.

Pegamos os carros então e seguimos pelo parque. Era uma pena que as torres, naquele dia, estavam totalmente encobertas. Voltamos até a Laguna Amarga e viramos em direção ao mirador Nordernskjöld. A estrada continua sendo de rípio, o que limita a velocidade do carro, mas o passeio foi muito bom. Meu pai cansou só de dirigir tanto tempo no rípio porque eles haviam saído cedo e só voltamos para a cidade bem no final da tarde.


Eu descrevi como chegar no Parque de carro em detalhes AQUI e escrevi sobre como fazer o passeio de um dia pelo parque AQUI.

O passeio completo foi maravilhoso e, se você não estiver de carro, pode comprar o mesmo passeio em qualquer hostel ou agência de turismo em Puerto Natales (se chama “Full Day Paine”). Se preferir fazer de carro, fora a estrada de rípio que é péssima para dirigir, não vai encontrar muitas dificuldades e vai poder fazer o trajeto com mais calma. Não tem jeito de errar já que é uma estrada única, sem grandes bifurcações, mas siga as indicações que passei no link ali em cima. Resumindo nosso trajeto: entre pela portaria Laguna Armarga, vá em direção ao mirador Nordernskjöld/mirador Sarmiento/Laguna Redonda/Guarderia Pudeto e não ao Hotel Las Torres. Passe pelo Pudeto, vá até Salto Grande, volte ao Pudeto e siga para a Hosteria Pehoé, o Mirador Cóndor e o Salto Chico Rio Paine. Depois você sai do parque pela Porteria Serrano e volta para Puerto Natales. Não deixe de parar em todos os miradouros que ver no caminho e, em especial, quando chegar na Guarderia Pudeto, que tem uma cafeteria onde você pode lanchar ou ir ao banheiro, vá até a cachoeira Salto Grande. Em vez de continuar na estrada você sobe um morro, sendo que há placas indicando. Lá estacione onde houver vaga e vá caminhando até a cachoeira e até pelo menos o início da trilha dos Cuernos del Paine. Se você tiver tempo e disposição, é uma trilha de 1 hora que promete vistas lindas dos Cuernos e vale a pena.

Los Cuernos del Paine ao fundo:

Continuando nosso caminho, paramos para uma foto rápida na ponte que leva até a Hosteria Pehoé e acabou sendo uma das minhas vistas preferidas do dia (foto acima). Depois, seguimos pela estrada até a Porteria Serrano e seguimos as placas de volta para Puerto Natales. O que deu um toque muito especial para o passeio foi a cor dos lagos. A aparência azulada e opaca é graças à diversas pequenas partículas de rocha (rock flour) que ficam suspensas na água.


Naquela noite tomamos um longo banho no hostel, devolvemos os sacos de dormir e capotamos de tão cansados que estávamos. Um passeio que acabamos não fazendo em Puerto Natales que parece ser muito legal é o que vai para o Glaciar Serrano. Um espanhol que estava hospedado no nosso hostel e dividiu o taxi conosco para a rodoviária falou que foi muito bom o passeio.


Dicas da tia Ana:


HOTEL – eu e meu namorado ficamos no Hostel Patagônia Adventure. A recepcionista era muito simpática, as camas eram confortáveis e há quartos privados. Tem café da manhã e a estrutura é pequena, mas bem boa. Valeu a pena e foi um ótimo custo-benefício (25 mil pesos por um quarto privado com banheiro compartilhado). ALUGUEL DE EQUIPAMENTO PARA O TORRES DEL PAINE - Alugamos saco de dormir no nosso hostel e estava em excelentes condições. Para alugar em um dia e devolver no outro saiu 5 mil pesos cada saco de dormir, sendo que para retirar você tem que deixar uma garantia de 70 mil pesos para cada um, então vá com dinheiro de sobra. Por toda a cidade há placas de lojas que alugam equipamento. Há barracas, campons, bastões de trekking, sacos de dormir, isolantes térmicos, material para rapel e escalada etc. COMIDA – gostamos do Masay Pizza, que tinha preços acessíveis, boas pizzas e um sanduíche chamado York Carne (pão, carne, maionese e ovo) bem gostoso. IR E VIR DA RODOVIÁRIA PARA HOTEL – ou de taxi com preço fixo de 1500 pesos (5 minutos) ou a pé 20 minutos.

EL CALAFATE E PERITO MORENO:

Missão Torres del Paine cumprida, então no dia seguinte pegamos a estrada até El Calafate, na Argentina. São 354km (ou 272km se você for pelo atalho de rípio), sendo que você perde algum tempo na fronteira se, como nós, tem o azar de parar atrás de um ônibus de turismo. A estrada está em boas condições na maioria do trajeto, sendo que eu aconselho a evitar o atalho de rípio do posto de Tapi Aike. Funciona assim, ou você usa esse atalho de 70km por uma estrada de rípio (pedras) em que você consegue dirigir a no máximo 60 km/h e economiza 80km do total da viagem ou vai até Esperanza por uma estrada boa de asfalto aumentando a distância, mas aumentando também a sua velocidade (até 110km/h) e a sua segurança. Preferimos, seguindo as indicações da Internet e da locadora do carro, ir por Esperanza para evitar qualquer problema. Acho que no fim os dois caminhos acabam demorando quase a mesma coisa para serem completados porque por Tapi AIke a distância é menor, mas você reduz sua velocidade pela metade. Enfim, é uma questão de preferência. Abasteça em Puerto Natales porque são poucos os postos de gasolina no caminho. Inclusive, se você é teimoso e quer ir por Tapi Aike só há um posto de gasolina e já vi relatos de ele estar fechado durante o dia sem qualquer aviso. Em Esperanza tem um posto mais confiável que você pode abastecer. Lembre também de levar lanchinhos! Outra opção que você terá é sobre onde prefere cruzar a fronteira. Nós, por pesquisa e indicação, optamos por cruzar em Paso Río Don Guillermo, que é a maior aduana. Você sai de Puerto Natales e pega a mesma estrada que leva em direção ao Torres del Paine, mas em uma rotatória vira à direita em vez de seguir para o parque. Há placas indicativas no caminho e vai ser difícil de errar. Esse é o mapa do trajeto que fizemos no Google Maps. Nele da para ver o corte pela Estancia Tapi Aike que optamos em não fazer:


Link para o mapa com mais detalhes: clique aqui. O processo de aduana não foi complicado. No Chile você estaciona na frente dela, desce do carro e vai até uma casinha, onde há etapas para serem completadas. Você vai no guichê de número um e entrega os passaportes junto com os papéis que cada turista recebe ao entrar no Chile. O agente carimba seu passaporte e pronto. No próximo guichê você entrega os documentos do carro e a permissão internacional (necessária para carros alugados), que ele também carimba. Importante ressaltar que há banheiros na aduana. Voltamos para o carro e seguimos pela estrada que, nesse trecho de 10km entre as duas aduanas, é de rípio. Curiosamente, reza a lenda que a Argentina queria que o Chile asfastasse esse trecho e vice-versa, sendo que nenhum dos países asfaltou por birra então ficou assim. Chegando na aduana da Argentina é um procedimento parecido. São 2 guichês, sendo que o primeiro é para conferência de passaportes e o segundo para o carro. Pegamos uma fila grande por culpa de um ônibus de turismo que havia acabado de chegar na nossa frente e perdemos 40 minutos por ali:



No caminho vimos uma raposa muito fofa que chegou super perto do nosso carro em um mirante. Apelidei ela de Charlie. Ela estava com cara de simpatia e fome, provavelmente na esperança de darmos algo para ela comer ou de nos atacar e fazer um ótimo almoço de carne de turistas brasileiros:


Chegamos em El Calafate animados. Bem na entrada da cidade há um centro de informações que nos forneceu um mapa e indicou onde eram nossos hotéis. Calafate é uma cidade bonitinha, beeeem turística e aconchegante. A vibe achei meio de Gramado, aquele tipo de cidade construída para agradar estéticamente turistas, especialemnte a rua principal, Av. Del Libertador. No dia seguinte fomos para o Perito Moreno porque eu havia reservado o passeio Big Ice com a Hielo y Aventura (veja informações MUITO IMPORTANTES sobre esse passeio nas dicas). O pessoal da empresa aconselhou sair de Calafate pelo menos duas horas e trinta minutos antes do horário marcado para a saída do barco, sendo que são 76km de distância. Só não esqueça de levar o voucher do passeio como nós quase fizemos. Sorte nossa que minha mãe é uma bruxa e, com seus truques mágicos, nos lembrou do voucher quando já estávamos no carro saindo da cidade. Digamos que meu pai não ficou muito feliz em retornar para o meu hostel buscar, mas foi bem melhor que ir sem e ser barrado do passeio. Você segue pela Av. Del Libertador em direção oeste até ela virar estrada e daí vai seguindo as placas para o glaciar. A estrada é tranquila e você vai até parar numa fila, que é a entrada do parque. Vem um homem na janela do carro cobrar as entradas, te dá um mapa e manda você seguir. Não esqueça que mostrando um passaporte brasileiro (ou qualquer outro do Mercosul) você ganha um desconto e paga 200 pesos argentinos (yaaay!). A estrada se torna sinuosa e diversas lebres pulam na frente do carro, então dirija com cuidado. Não, sério, com muito cuidado mesmo porque aqueles coelhos bombados são malucos e suicidas. O porto de onde saem os passeios fica a sua esquerda antes de chegar nas passarelas. Fique atento para uma placa que indica a entrada. Há estacionamento e você pode deixar tranquilamente seu carro lá. Nosso barco saiu pontualmente do porto e nos deixou 45 minutos de navegação depois em outro lugar, bem mais perto da geleira:

O Big Ice foi maravilhoso, um dos passeios mais legais que já fiz na vida. São mais ou menos 1 hora de trilha subindo montanha acima. Há uma pausa para descanso no meio do caminho e outra quando estiver perto da entrada da geleira para que pegar os crampons e o cinto de segurança. Daí você caminha mais uns minutos até a geleira, o guia coloca o crampon no seu pé e você pisa pela primeira vez no gelo.


O fato de ser dia 31 de dezembro, quase ano novo, só deixou o passeio mais especial. Tem jeito melhor de fechar o ano do que uma aventura nesse lugar maravilhoso? Caminhar no gelo é fácil, não tem muito segredo e os crampons fixam muito bem no chão te passando uma sensação boa de segurança. Os guias são bons, sabem muito bem o que estão fazendo e explicam tudo. Os itens obrigatórios para fazer o passeio são óculos de sol, luvas impermeáveis (se você não tem eles forneciam umas lá), água e alimentos. Eu super recomendo você estar usando uma bota de trekking para fixar os crampons e uma calça impermeável para não se molhar. A água da geleira é potável e muito transparente, então leve pouca água e vá enchendo sua garrafa no caminho.

O passeio é restrito para adultos de 18 a 50 anos em bom estado físico e eu achei cansativo, mas tranquilo. A subida para as torres foi bem mais exigente. O mais legal é que o caminho nunca é o mesmo porque a geleira se movimenta muito durante o dia, então os guias vão inventando um caminho para seguir, sem muita regra. Você vai conseguir chegar bem perto das fendas grandes de gelo, que foi minha parte preferida. O dia, para nossa sorte, estava lindo. O sol reinava absoluto no céu, refletindo o branco da geleira e deixando aquele lugar, que já é lindo, absolutamente deslumbrante. Não esqueça de repassar o protetor solar no rosto porque o sol reflete no gelo e queima muito. São três horas caminhando sobre a geleira, sendo que há uma pausa para almoço ao lado de um córrego. Na volta, nossos guias tiveram que inventar uma escada de gelo com o ice pick deles para podermos cruzar um rio que havia se formado no dia anterior e impossibilitava que voltássemos por aquele caminho.



O passeio é caro, mas achei que valeu cada centavo. Na volta pegamos o barco para voltar ao porto e, para nossa surpresa, serviram whisky com gelo da geleira para todos que participaram do trekking. Foi uma sensação indescritível tomar aquela bebida, depois de um esforço físico considerável, olhando o Perito Moreno enquanto nosso barco seguia rumo ao porto.


De repente, abruptamente, o barco desliga o motor, os marinheiros correm para o deck. Eu olho para o Con, ele olha para mim, o que está acontecendo?. Do nada um marinheiro alto e forte aremessa uma rede enorme no meio do lago e pesca (isso mesmo... PESCA) um pedaço de gelo que havia se desprendido da geleira. Foram necessários três homens para levantar o bloco de gelo do lago e colocar no barco. Eles começam rapidamente a picar o gelo com um ice pick e servir em copos de vidro com whisky dentro. Eles então, retomam o caminho e nos servem esses copos. Nem preciso dizer que foi TOP né?


Dai você me olha com essa cara de trabalhador de cidade grande e pergunta: Nossa Ana, mas sem filtrar a água? Ah cara, para de ser chato! Foi top e pronto hahaha Não morri nem passei mal. Eu não recuso álcool nunca! :)


Só um pouco de informação útil: o Perito Moreno é um dos diversos glaciares do Parque Naiconal Los Glaciares, tendo 5km de largura e 60 metros de altura. Das passarelas você consegue visualizar o desabamento de enormes blocos de gelo, sendo que o barulho é assustador. Esse desabamento ocorre pela pressão da água e pelo calor do sol. O guia do Big Ice comentou que a geleira perde o mesmo tanto de gelo que ganha em um dia, por isso ela sempre tem o mesmo tamanho.

Outra curiosidade legal é que, embora pareça de longe, o gelo não é azul. Ele é branco, mas reflete o céu e fica com esse tom azul maravilhoso das fotos:



Saindo do Perito Moreno, passamos a virada do ano no restaurante Casimiro Biguá com direito a muito cordeiro patagônico, espumante e dança. Eles tinham um pacote de jantar de ano novo que valeu muito a pena, estava uma delícia.


Dicas da tia Ana:


HOTÉIS - O dos meus pais era o Hosteria Los Canelos, que é um hotel lindo, mas com donos não muito simpáticos. O nosso hostel era o Del Glaciar Libertador, que acabou sendo o meu hostel preferido da viagem por o chuveiro e o banheiro serem dentro do quarto e divididos apenas pelos ocupantes do quarto que, nosso caso, eram um casal de indianos que morava no Uruguai. COMIDA – almoçamos um dia no Pietro’s café, um restaurante bem bonito em uma esquina na rua principal. Nos surpreendemos com o preço porque a comida na Argentina, em geral, foi bem mais barata que no Chile. Outro restaurante que tenho que recomendar também é o do ano novo, o Casimiro Biguá Parrilla & Asador. O cordeiro patagônico estava divino. No hotel dos meus pais indicaram para comer cordeiro o restaurante La Tablita, mas quando fomos não havia mais vaga. TREKKING NO PERITO MORENO - A única empresa que tem licença para fazer esses passeios é a Hielo y Aventura, sendo que nessa época do ano, que é alta temporada, é quase impossível de conseguir uma vaga para o Big Ice (trekking de 6 horas sobre a geleira) um dia antes. Reservamos, então, pelo site da empresa pagando com cartão de crédito internacional (só Visa ou American Express). A reserva foi tranquila e deu tudo certo. Já o minitrekking (2 horas de passeio) tem mais vagas e você até pode dar sorte de conseguir reservar um dia antes, mas no dia que chegamos em Calafate já estava completamente esgotado. Meu pais e os amigos deles acabaram comprando o passeio de barco feito pela Hielo y Aventura, que era o único que tinha vaga e saiu mais ou menos 80 reais por pessoa. PARQUE NACIONAL LOS GLACIARES – apresentando qualquer passaporte do Mercosul na entrada você ganha um desconto e paga 200 pesos argentinos para entrar.



EL CHALTÉN:


No dia seguinte, primeiro dia do ano, pegamos a estrada novamente, mas, dessa vez, com destino a El Chaltén (213km e 3h25min) pela famosa Ruta Nacional 40. No caminho há um parador com comida boa e banheiros limpos. Não deixe de parar várias vezes para tirar fotos da estrada, principalmente ao se aproximar de El Chaltén:



El Chaltén é uma cidade muito nova, de 1985, fundada para garantir a soberania da Argentina sobre o turismo na região. Ela é essencialmente turística e fica aos pés do Monte Fitz Roy. O Fitz Roy foi descoberto pelo explorador argentino Francisco Moreno (também conhecido como Perito Moreno – mesmo nome da geleira) e ganhou esse nome em homenagem ao capitão do HMS Beagle (barco do Darwin), Robert FitzRoy. A elevação dele é 3.405m e a altura 1.951m, com classificação Ultra, sendo que ele é considerado uma das 10 montanhas mais difíceis e perigosas de escalar do mundo junto com o Everest, Annapurna, K2, o Denali e outros. Não se preocupe que você não vai escalar ele (ou vai, a vida é sua e você que manda), só comentei porque acho interessante saber. Além disso, só a título de curiosidade, em El Chaltén você está bem próximo de dois vulcões, o Lautaro (última erupção em 1979) e o subglacial Viedma (uma erupção em 1988). Não precisa se preocupar com uma erupção porque ambos estão dormentes e ficam razoavelmente longe da cidade. Muito mais chance de você morrer caindo da trilha do Torres Del Paine ou de um tsunami em Punta Arenas do que queimado pela lava. Ihul! A cidade é muito pequena e foi bem fácil de nos locomovermos. Há diversos restaurantes e lojas de souvenir espalhados entre vários hotéis. A foto na placa de chegada é indispensável para todo turista que se preza. Nem vem me chamar de brega que não tem! Aposto que você também vai tirar a foto turistinha lá :)


O Fitz Roy quase sempre está encoberto e, por isso, é chamado também de Cerro Chaltén (smoking mountain) porque quase sempre há uma nuvem encobrindo seu topo. Pela primeira vez na viagem não tivemos muita sorte com o tempo e só conseguimos avistar o monte direito no último dia. Da cidade partem várias trilhas, sendo que as mais famosas são as para o Cerro Torre e para Laguna de Los Três. Eu queria muito fazer a trilha para a Laguna, que dizem que é magnífica. O mais fácil é ir de carro até a Hosteria El Pilar (acessível pela RP23) e iniciar a trilha de lá. O caminho será menos íngreme e você terá vistas diferentes. Caminhe até o acampamento Poincenot, suba até a Laguna (avisaram que essa subida é pior do que a até o Mirador Base las Torres no Torres del Paine), depois você volta até o acampamento e, ao invés de voltar até a Hosteria, volte pela trilha que dá direto na cidade. No dia que íamos fazer a trilha, o céu amanheceu cinza, encoberto e, pela primeira vez, entendi porque os ventos patagônicos são tão famosos. Ventava tanto que as paredes do meu hotel rangiam e na rua parecia que eu ia ser arremessada no chão pelo vento. A sensação térmica despencou e fomos aconselhados a não ir. Falam que, além de você não conseguir terminar a trilha, é muito perigoso cair no chão e se machucar. E quem sou eu para brigar de frente com as vontades da Mammy natureza né? Não fomos. Ficamos andando pela cidade, passando frio, sendo carregados pelo vento e vendo lojas. Claro que hoje eu me arrependo. Deveríamos, mesmo com o vento assustador, ter tentado ir ao menos ao Cerro Torre. Quem sabe um dia eu volto para a patagônia completar o W e fazer as trilhas de El Chaltén? Da cidade há diversas opções de passeios: caiaque, rafting, trilhas, ida de ônibus até o lago deserto e uma cachoeira bacaninha chamada de Chorrilo del Salto.

Mesmo que você não vá fazer nenhum desses passeios acho que vale a pena passar um dia em Chaltén pela vista da estrada e pela chance de ver o Fitz Roy, que é lindo. Olha ele aqui, meio tímido, escondendo a cara nas nuvens:


Esse foi o único dia em que ele estava visível, nos outros você só via nuvens. No dia seguinte voltamos até Puerto Natales. Saímos 10h de El Chaltén e seguimos direto para Puerto Natales. Não esqueça de abastecer quando ver um posto no caminho. No outro dia saímos de Puerto Natales cedo e voltamos para Punta Arenas, devolvemos o carro e embarcamos para Santiago.


Dicas da tia Ana:


RESTAURANTES – não deixe de experimentar o Ahonikenk fonda patagonica. De fora ele não parece grande coisa, mas a comida tava maravilhosa e o preço bem acessível. Pedimos o bife à milanesa e o bife de chorizo e estava ótimo. Você pode tomar vinho da casa servido em uma jarra de pinguim muito fofa. Também gostamos do La Wafleria, que tem sobremesas de waffle com sorvete e chocolate muito boas. Ainda, não deixe de comer os doces da padaria La Nieve que são uma delícia. HOTEL – eu e o Con ficamos no hotel Poincenot. O hotel é lindo, confortável e aconchegante. O café da manhã tem croissants deliciosos para você passar doce de leite dentro. Adoramos. Meus pais ficaram no hotel Lanajuim e gostaram muito também. LAGUNA DE LOS TRÊS – comece pela Hosteria El Pilar (9km de El chaltén) e termine a trilha direto na cidade de Chaltén. Vai economizar tempo e subidas. GASOLINA – há um posto, se é que posso chamar de “posto” porque é só uma bomba, na entrada/saída da cidade. Cuidado que eles têm o limite de 200 pesos argentinos em gasolina por vez, então organize-se.



IMPRESSÕES FINAIS: A Patagônia, como vocês puderam ver pelas fotos, é magnífica. Linda é pouco para descrever tanta beleza e vale muito a pena investir em uma viagem para lá. Inclusive, se eu tivesse que escolher uma palavra para descrever a Patagônia seria “diversidade”. Em um único dia você experimenta as quatro estações do ano, você vê lagos das mais diversas tonalidades, fica abismado com os peculiares formatos das montanhas. Você passa frio, calor, vê neve, vê gelo e é quase arremessado no chão graças aos fofos ventos patagônicos. Uma aventura.


É um daqueles destinos que você volta para o Brasil trazendo um pedacinho dele com você. Inclusive, quando estávamos no Torres del Paine, meu protetor de orelha caiu do bolso do casado do meu namorado e foi atirado pelo vento morro abaixo. Espero que ele ainda esteja lá, curtindo a natureza e aproveitando a vista maravilhosa. Assim eu sei que pelo menos uma pequena parte de mim nunca teve que voltar para casa. Meus pais e os amigos deles, a Renée e o Gilberto, adoraram o destino, mesmo não fazendo trilha e passeando no modo light. A Renata, que tem 11 anos, também adorou tudo e se divertiu muito, então acho que da para afirmar que a Patagônia é “child friendly”. É um destino um pouco caro, então programe-se bem. Não esqueça de reservar antes os passeios que eu indiquei para não chegar lá e ficar sem conhecer. Ficamos, no total, 16 dias viajando, sendo que destes, 10 foram exclusivamente na patagônia. Deu tempo de ver tudo, mas acho que uns 2 dias a mais, se você puder, deixaria o roteiro mais tranquilo, com tempo para ficar de bobeira nas cidades e fazer tudo com mais calma. Ficar uns dias a mais também ajuda a garantir que você vai ver as atrações com tempo bom. Se em um dia não está aberto, você pode deixar para fazer o passeio em outro dia. Também ajudariam se você quiser completar o W. A viagem foi inesquecível e, se você leu tudo até aqui, espero que esse texto vergonhosamente gigantesco ajude muito na programação da sua viagem. Para qualquer dúvida, só me adicionar no Facebook, mandar e-mail, sinal de fumaça ou pombo correio.

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