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Um pouco da triste história da Irlanda



A Irlanda tem sido habitada há pelo menos 9 mil anos, sendo que teve muita influência dos Vikings e dos celtas. Dublin, inclusive, foi local de um grande assentamento Viking.


Em 1801, o Reino da Irlanda fundiu-se com o Reino da Grã-Bretanha formando o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda, em decorrência do Ato de União, documento aprovado pelo parlamento irlandês em meio a muito suborno e controvérsia. Dessa união foi criada a bandeira do Reino Unido, que é usada até hoje (fusão das bandeiras da Inglaterra, Escócia e Irlanda).


Depois de períodos de turbulência política e de momentos difíceis, como a Grande Fome em 1845-1849, que reduziu a população irlandesa em 25%, os movimentos nacionalistas foram ganhando espaço, especialmente após 1880, e começaram a exigir o autogoverno. Eles aproveitaram que a Inglaterra estava focada na Primeira Guerra Mundial em 1916 e realizaram a Revolta da Páscoa na região de Dublin, que durou uma semana e terminou com 400 pessoas mortas. A dura repressão do exército britânico e a conscrição (serviço militar obrigatório) foram incentivando os irlandeses a simpatizarem com o movimento nacionalista cada vez mais.


Em 1918, nas eleições, o partido separatista, Sinn Féin, ganhou pelo menos 70% dos assentos que a Irlanda tinha de direito no Parlamento Britânico, mas não chegou a assumir porque o partido reuniu-se em Dublin e fez uma declaração formal de independência, confirmando o estado de guerra entre a República Irlandesa e a Inglaterra e criando o Exército Republicano da Irlanda (IRA).


A guerra de independência foi muito violenta, marcada por atentados e muito sangue, sendo que em dezembro de 1921 foi proclamada uma trégua. A Inglaterra percebeu que seria muito caro e com um custo de vidas muito alto reassumir o controle total da Irlanda então logo foi assinado o Tratado Anglo-Irlandês.


Com esse tratado a parte sul da Irlanda formou o Estado Livre Irlandês, que foi reconhecido como independente pela Inglaterra, mas ainda sob domínio do Império Britânico, sendo que até uma parte das dívidas do Império teria que pagar. Já a Irlanda no Norte, separada do Sul em 1920 e composta por muitos simpatizantes da Inglaterra, que consistiam muitas vezes em descendentes de escoceses e ingleses, pode votar se queria se juntar com a o Estado Livre Irlandês ou continuar com o Império Britânico.


O IRA não apoiou completamente o tratado, diante da ausência de total liberdade e soberania, sendo que o exército se dividiu entre os que aceitavam e os que não aceitavam.


Importante lembrar também que essa guerra teve uma forte influência religiosa porque a maioria dos irlandeses eram católicos e a maioria dos ingleses e escoceses eram protestantes, sendo que na época havia muita perseguição entre as duas religiões. Essa antiga discussão entre católico e protestante foi muito presente também na Escócia.


A discussão culminou na Guerra Civil Irlandesa que durou até 1923 e custou a vida de muitos personagens notáveis da guerra de independência e de muitos irlandeses. O IRA, ao final, foi derrotado.


A Irlanda só ganhou independência completa da Inglaterra após o fim da Segunda Guerra Mundial, com o Ato da República da Irlanda em 1948.


Depois de tudo isso, a Irlanda do Norte continuou sendo palco de conflitos armados, porque os católicos nacionalistas ainda queriam unir as duas Irlandas e sofriam grande pressão dos protestantes, também chamados de unionistas. O IRA continuou agindo por lá, sendo que a capital Belfast foi palco de inúmeros atentados até um cessar-fogo assinado em 1988 chamado de Acordo de Belfast, ou o Acordo da Sexta-feira Santa. Com ele, houve a deposição das armas de fogo, libertação dos prisioneiros militares e alteração da Constituição da República da Irlanda para reconhecer a soberania da Irlanda do Norte.


Hoje ainda é possível sentir uma certa tensão na Irlanda do Norte, especialmente em Belfast. Não existe mais uma fronteira física entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda e você só percebe que mudou de país porque as placas dos carros são diferentes e a moeda passa do Euro para a Libra. Mesmo assim, ainda existem conflitos e ataques, só que em uma proporção muito menor do que antigamente.


Nosso guia do tour para o Giant’s Causeway, inclusive, comentou que hoje ainda há partes de Belfast que um católico não pode entrar se não quiser ser atacado (e vice-versa) e que a fronteira, antes do acordo de 1988, era mais militarizada que a entre a Coréia do Norte e do Sul. Fiquei chocada.

Uma outra curiosidade sobre a Irlanda é que, assim como na Escócia, a influência celta ainda é muito presente, especialmente na língua gaélica, que é quase tão forte quanto o inglês por lá. Repare especialmente nas placas de rua, para ver indicações em inglês e gaélico.


Curiosidade para quem gosta de música: duas músicas muito famosas tratam dos conflitos na Irlanda – a música Sunday Bloody Sunday da banda U2 (homenagem às vítimas católicas do confronto em 1972 entre católicos, protestantes e o exército inglês na cidade de Derry, conhecido como Domingo Sangrento) e a música Zombie da banda The Cranberries (escrita em homenagem a dois meninos que morreram em um bombardeio do IRA em 1993).

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